Psicologia

Coluna de Psicologia - Jornal Vem CA

Marco Antonio de Azevedo

6/15/20243 min read

A Psicologia e as histórias.

A Psicologia é uma ciência que possui múltiplas abordagens e concepções. Todas elas me parecem válidas quando utilizadas por um psicólogo habilidoso e cuidadoso. Eu, particularmente, utilizo frequentemente histórias e fábulas para ajudar meus clientes a entender e conferir sentido as suas experiências de vida. Então, nesse primeiro número do Jornal VemCa, atendendo a um pedido do estimado Cassius, quero lhes narrar uma dessas histórias com a qual muitos de vocês poderão, de uma maneira ou de outra, se identificar

Conta uma lenda medieval que existia um lenhador que diariamente saia de sua casa rumo a um determinado local de uma enorme floresta onde, com seu machado, cortava árvores para vender a madeira em sua aldeia. Saia bem cedo e voltava à tardinha, sempre a mesma hora. No seu trajeto cotidiano de casa para o trabalho e do trabalho para casa, passava pelos arredores do palácio real, local especialmente belo e agradável daquela grande floresta. E era justamente por isso que por ali costumava parar para descansar.

Numa certa tarde, iluminada por um por de sol dourado e cálido, apreciando o castelo com seus jardins, rodeados pela natureza majestosa, viu surgir numa das varandas a princesa Dulce Maria, que saíra para comtemplar a luz irradiada e a serenidade daquele final de dia de outono. Pôde então ver, até o anoitecer, aquela que julgou ser mais encantadora do que aquela paisagem que ele tanto amava.

O percurso final da volta para casa, foi trilhado já no escuro da noite recém-chegada. Em casa banhou-se, comeu e foi se deitar. Seu sono foi povoado de sonhos com a princesa. Seguiram-se os dias e, como de costume, o lenhador cumpria regularmente sua rotina de trabalho. Mas, o fato novo era que a jovem princesa agora vinha toda tarde na varanda para ver o entardecer e, quem sabe, o também belo e sereno lenhador que descansava por ali.

Nosso herói tornara-se então muito inquieto e foi tomado de grande ânsia, enchendo-se de um

irresistível desejo de falar com a princesa pela qual seu coração, ousadamente, palpitava. Mas como ele, pessoa tão humilde e pobre, poderia conhecer de perto a princesa? Isso era um privilégio dos bem nascidos. Levando a sério essa questão, passou a pensar que poderia fazer algo e não demorou para que uma ideia lhe ocorresse. Iria disfarçado de nobre a uma festa no palácio.

E assim fez. Conseguiu junto aos amigos alguém que vendeu um passe para o baile real e, depois de gastar boa parte de suas economias com roupas, trajou-se como um nobre e no dia marcado para a grande festa rumou para o palácio. Meio sem jeito, transitou pelos salões, se aproximou da princesa e conseguiu tirá-la para uma dança. E como dominava alguns passos, embalou-a pela pista despertando atenção dos convidados. A princesa se alegrou com seu modo de dançar e devotou-lhe alegre simpatia. Nosso falso nobre pôde, então, convidá-la para um novo encontro, buscando espaço para uma maior aproximação. Ela, gentil e firmemente, disse-lhe não. Ao perguntá-la sobre o porquê da recusa ouviu de sua boa. “Nas últimas semanas eu só penso num jovem lenhador que vejo todas as tardes voltando para casa na trilha da floresta e é somente dele que tem se ocupado meu coração”.

Desolado nosso herói recuou e se retirou desapontado. Entendeu então, que não é necessário fingirmos algo que não somos para merecer o afeto, a consideração e o respeito dos outros. Quando somos nós mesmos, nossas chances são bem maiores e, pelo sim e pelo não, as coisas tendem a ser mais fáceis.

Marco Antônio de Azevedo